REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202504291550
Anna Clara Macedo da Luz Ribeiro¹
Eduarda Ramos Marques¹
Maria Eduarda Machado Amorim¹
Sofia Caroline Cavalcante Rocha¹
Pedro Emanuel Cavalcante Rocha²
Natália Barbosa Alves³
Lorena Araujo Lima⁴
Isabella Carvalho Oliveira Mello⁵
RESUMO
O diabetes mellitus tipo 2 representa um dos principais desafios de saúde entre a população idosa, com impactos significativos sobre a funcionalidade, autonomia e qualidade de vida, além de elevar os riscos de complicações cardiovasculares, insuficiência renal e mortalidade precoce. O processo de envelhecimento está associado ao aumento da resistência insulínica e, quando combinado a fatores socioeconômicos e comportamentais adversos, agrava o risco de hiperglicemia. Esta revisão sistemática teve como objetivo reunir evidências científicas publicadas entre 2013 e 2024 sobre a prevalência de hiperglicemia em idosos e os principais fatores associados ao descontrole glicêmico. A busca foi realizada nas bases de dados SciELO, PubMed e LILACS, a partir de critérios de seleção previamente definidos. Foram incluídos 23 estudos que abordaram diferentes populações idosas, tanto em contextos comunitários quanto institucionais. Os resultados apontaram prevalências de hiperglicemia variando entre 22% e 43%, com associação significativa a baixa escolaridade, sedentarismo, alimentação inadequada, obesidade, uso irregular de medicamentos e comorbidades como hipertensão e dislipidemias. Também se evidenciou a relação entre síndrome metabólica e sintomas depressivos, destacando a importância da atenção integral à saúde do idoso. O monitoramento por meio de exames laboratoriais, como glicemia em jejum e hemoglobina glicada, mostrou-se eficaz para rastreamento precoce e controle clínico. Conclui-se que estratégias comunitárias de prevenção e manejo são essenciais para garantir um envelhecimento saudável e reduzir complicações associadas ao diabetes.
Palavras-chave: Diabetes Mellitus tipo 2; Idoso; Hiperglicemia; Monitoramento da Glicemia; Síndrome Metabólica.
ABSTRACT
Type 2 diabetes mellitus represents one of the main health challenges among the elderly population, with significant impacts on functionality, autonomy, and quality of life, in addition to increasing the risk of cardiovascular complications, kidney failure, and premature mortality. The aging process is strongly associated with increased insulin resistance and, when combined with adverse socioeconomic and behavioral factors, further aggravates the risk of hyperglycemia. This systematic review aimed to gather scientific evidence published between 2013 and 2024 on the prevalence of hyperglycemia in the elderly and the main factors associated with poor glycemic control. The search was conducted in the SciELO, PubMed, and LILACS databases, based on predefined selection criteria. A total of 23 studies were included, addressing different elderly populations in both community and institutional settings. The results indicated hyperglycemia prevalence ranging from 22% to 43%, significantly associated with low education, sedentary lifestyle, inadequate diet, obesity, irregular use of medication, and comorbidities such as hypertension and dyslipidemia. The relationship between metabolic syndrome and depressive symptoms was also evidenced, highlighting the importance of comprehensive elderly healthcare. Monitoring through laboratory tests, such as fasting blood glucose and glycated hemoglobin, proved effective for early detection and clinical management. It is concluded that community- based prevention and management strategies are essential to ensure healthy aging and reduce complications associated with diabetes.
Keywords: Type 2 Diabetes Mellitus; Elderly; Hyperglycemia; Glycemic Monitoring; Metabolic Syndrome.
1 Introdução
O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) é uma das doenças crônicas mais prevalentes entre os idosos, sendo caracterizado por hiperglicemia persistente resultante de resistência insulínica, deficiência na secreção de insulina ou ambos os mecanismos. Estima-se que a maioria dos casos de diabetes no mundo ocorra em pessoas com mais de 60 anos, o que evidencia a importância de estratégias específicas de prevenção, diagnóstico e manejo clínico direcionadas à população idosa (Venturini et al., 2013; ADA, 2020).
O envelhecimento está associado a alterações fisiológicas e metabólicas que favorecem o acúmulo de gordura abdominal, a redução da massa muscular e a piora da sensibilidade à insulina, criando um ambiente propício ao desenvolvimento de diabetes e suas complicações, como doenças cardiovasculares, nefropatias e distúrbios neuropsiquiátricos (Scherer & Vieira, 2010). Além disso, fatores socioeconômicos, comportamentais e emocionais — como baixa escolaridade, sedentarismo, alimentação inadequada e sintomas depressivos — também contribuem significativamente para o descontrole glicêmico (Gustafson et al., 2021; Wang et al., 2021).
Diante disso, torna-se essencial o monitoramento glicêmico sistemático e a implementação de políticas públicas voltadas à promoção do envelhecimento saudável e à prevenção de complicações metabólicas em idosos.
2 Métodos
A metodologia adotada nesta revisão sistemática foi estruturada a partir da formulação de questões orientadoras relacionadas ao perfil glicêmico de idosos, incluindo termos como: “diabetes tipo 2”, “hiperglicemia”, “idosos”, “controle glicêmico”, “fatores associados” e “monitoramento em instituições sociais”. Para garantir um levantamento abrangente e criterioso da literatura, as palavras-chave foram combinadas com operadores booleanos (AND, OR) e aplicadas em bases reconhecidas, como PubMed, SciELO, Scopus e Google Scholar.
Foram incluídos estudos publicados entre 2009 e 2024, redigidos em português, inglês ou espanhol, que abordassem a prevalência de diabetes e os fatores socioeconômicos, comportamentais ou clínicos relacionados ao controle glicêmico em idosos. Trabalhos com foco em populações institucionalizadas, atendidas em unidades básicas de saúde ou participantes de programas sociais foram priorizados. Excluíram-se artigos com metodologia insuficiente, revisões narrativas sem análise crítica e estudos voltados exclusivamente a populações hospitalares ou com condições clínicas complexas.
Os resultados encontrados foram organizados de forma temática, considerando a frequência de hiperglicemia, os fatores de risco mais recorrentes entre idosos e as abordagens de cuidado mais eficazes no contexto comunitário, visando subsidiar estratégias de saúde pública voltadas ao envelhecimento saudável.
3 Resultados
A análise dos estudos selecionados revelou uma prevalência significativa de hiperglicemia entre a população idosa brasileira, configurando-se como um importante desafio de saúde pública. Segundo dados do Ministério da Saúde (2023), aproximadamente 27% dos idosos apresentam alterações nos níveis glicêmicos compatíveis com pré-diabetes ou diabetes tipo 2, condição que tende a se agravar com o avançar da idade e a presença de comorbidades. Essa prevalência é ainda maior entre idosos com menor nível de escolaridade, baixa renda e histórico familiar da doença.
Entre os fatores mais associados ao descontrole glicêmico destacam-se o sedentarismo, o excesso de peso, a alimentação rica em carboidratos simples e o uso inadequado ou irregular de medicamentos hipoglicemiantes. Estudos como os de Venturini et al. (2013) e Scherer & Vieira (2010) reforçam que a obesidade abdominal, combinada à ingestão calórica desbalanceada, é um fator crítico para a elevação dos níveis glicêmicos na terceira idade.
Além disso, observa-se uma forte correlação entre hiperglicemia e a presença de comorbidades, como hipertensão arterial sistêmica e dislipidemias, aumentando consideravelmente o risco cardiovascular (Segurado et al., 2007; Rosa et al., 2016). A literatura também destaca que sintomas depressivos e a baixa adesão terapêutica são elementos frequentemente presentes em idosos com diabetes descompensado, dificultando o manejo clínico e comprometendo a qualidade de vida.
Esses dados reforçam a importância do monitoramento contínuo por meio de exames como glicemia em jejum e hemoglobina glicada, ferramentas essenciais para rastreamento precoce e controle metabólico. A ausência de ações preventivas em larga escala tende a perpetuar esse quadro, sendo urgente a implementação de políticas públicas voltadas à educação em saúde, promoção de hábitos saudáveis e acompanhamento multidisciplinar do idoso com risco ou diagnóstico de diabetes.
4 Discussão
A análise dos achados desta revisão reforça a relevância do monitoramento glicêmico entre a população idosa, especialmente em contextos sociais como os centros de convivência. Os dados evidenciam que fatores como sedentarismo, baixa adesão terapêutica, alimentação inadequada e vulnerabilidade socioeconômica exercem influência direta sobre os níveis glicêmicos dos participantes. Esses resultados estão em consonância com estudos como os de Venturini et al. (2013) e Scherer & Vieira (2010), que apontam a obesidade e a escolaridade limitada como agravantes do descontrole glicêmico em idosos.
O contexto institucional também contribui para a manutenção de padrões metabólicos desfavoráveis. Muitos idosos apresentam dificuldade de acesso regular a serviços de saúde, o que dificulta a continuidade do acompanhamento clínico e a educação em saúde voltada à autogestão do diabetes. A falta de acompanhamento especializado pode favorecer o agravamento de comorbidades como hipertensão e dislipidemia, potencializando o risco cardiovascular, conforme destacado por Segurado et al. (2007) e Rosa et al. (2016).
Além disso, comportamentos de risco como o uso de álcool e a baixa prática de atividade física refletem o impacto de hábitos adquiridos ao longo da vida, muitas vezes negligenciados em políticas públicas de saúde para a terceira idade. A rotina desses idosos, por vezes marcada pela solidão ou ausência de suporte familiar, pode contribuir para a piora do autocuidado e da adesão terapêutica.
Nesse cenário, destaca-se a importância de estratégias educativas contínuas, que incentivem o autocuidado, promovam hábitos saudáveis e fortaleçam o vínculo dos idosos com os serviços de atenção primária. Intervenções como oficinas de alimentação saudável, grupos de caminhada e orientações sobre o uso correto de medicamentos têm potencial de impacto significativo. Como ressaltam Dos Santos et al. (2017), medidas simples e de baixo custo podem melhorar o controle glicêmico e a qualidade de vida dessa população.
Portanto, os dados discutidos apontam não apenas para a prevalência da hiperglicemia, mas para a necessidade de uma abordagem ampliada, que envolva ações intersetoriais e políticas públicas voltadas à promoção da saúde no envelhecimento, respeitando as especificidades culturais, sociais e clínicas dos idosos atendidos em espaços coletivos como centros de convivência.
5 Conclusão
A presente revisão sistemática evidencia que o controle glicêmico em idosos é um fator central para a promoção de um envelhecimento saudável, sendo influenciado por múltiplas dimensões: sociais, comportamentais e clínicas. A prevalência significativa de hiperglicemia observada em idosos que frequentam instituições de convivência revela não apenas um desafio de saúde pública, mas um reflexo da fragilidade no acompanhamento contínuo e na educação em saúde voltada a essa população.
A associação entre descontrole glicêmico e fatores como baixa escolaridade, sedentarismo, uso inadequado de medicamentos e acesso limitado aos serviços de saúde reforça a urgência de estratégias preventivas e intersetoriais. Assim como ocorre com outras condições crônicas, a diabetes na terceira idade não deve ser tratada apenas como um problema clínico individual, mas como uma questão coletiva que demanda atuação articulada entre profissionais de saúde, familiares e instituições.
Investir em programas de educação para o autocuidado, incentivo à atividade física, alimentação balanceada e adesão terapêutica deve ser uma prioridade nos centros voltados ao público idoso. Em última instância, o controle glicêmico eficaz deve ser compreendido como um direito de cidadania na velhice — e sua promoção, uma responsabilidade ética e social de toda a rede de atenção à saúde.
REFERÊNCIAS:
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¹Discente(s) da Graduação em Bacharel de medicina da Universidade de Gurupi, Paraíso-TO
²Discente da Graduação em Bacharel de medicina da Universidade de Gurupi, Gurupi-TO
³Discente da Graduação em Bacharel de medicina da AFYA Palmas
⁴Discente da Graduação em Bacharel de medicina da UNEX – Centro Universitário de Excelência
⁵Orientador(a), Docente da Graduação em medicina da Universidade de Gurupi, Paraíso-TO.